terça-feira, 25 de março de 2014

Os contos Beedle o Bardo

O CONTO DOS TRÊS IRMÃOS


Era uma vez três irmãos que estavam viajando por uma estrada deserta e tortuosa ao anoitecer.
Depois de algum tempo, os irmãos chegaram a um rio fundo demais para vadear e perigoso demais para atravessar a nado. Os irmãos, porém, eram versados em magia, então simplesmente agitaram as mãos e fizeram aparecer uma ponte sobre as águas traiçoeiras. Já estavam na metade da travessia quando viram o caminho bloqueado por um vulto encapuzado.
E a morte falou. Estava zangada por terem lhe roubado três vítimas, porque o normal era os viajantes se afogarem no rio. Mas a morte foi astuta. Fingiu cumprimentar os três irmãos por sua magia, e disse que cada um ganharia um prêmio por ter sido inteligente o bastante para lhe escapar.
Então, o irmão mais velho, que era um homem combativo, pediu a varinha mais poderosa que existisse: uma varinha que sempre vencesse os duelos para seu dono, uma varinha digna de um bruxo que derrotara a Morte! Ela atravessou a ponte e se dirigiu a um vetusto sabugueiro na margem do rio, fabricou uma varinha de um galho da árvore e entregou-a ao irmão mais velho.
Então, o segundo irmão, que era um homem arrogante, resolveu humilhar ainda mais a Morte e pediu o poder de restituir a vida aos que ela levara. Então a Morte apanhou uma pedra da margem do rio e entregou-a ao segundo irmão, dizendo-lhe que a pedra tinha o poder de ressuscitar os mortos.
Então, a Morte perguntou ao terceiro e mais moço dos irmãos o que queria. O mais moço era o mais humilde e também o mais sábio dos irmãos, e não confiou na Morte. Pediu, então, algo que lhe permitisse sair daquele lugar sem ser seguido por ela. E a Morte, de má vontade, lhe entregou a própria Capa da Invisibilidade.
Então, a Morte se afastou para um lado e deixou os três irmãos continuarem a viagem e foi o que eles fizeram, comentando, assombrados, a aventura que tinham vivido e admirando os presentes da Morte.
No devido tempo, os irmãos se separaram, cada um tomou um destino diferente.
O primeiro irmão viajou uma semana ou mais e, ao chegar a uma aldeia distante, procurou um colega bruxo com quem tivera uma briga. Armado com a varinha de sabugueiro, a Varinha das Varinhas, ele não poderia deixar de vencer o duelo que se seguiu. Deixando o inimigo morto no chão, o irmão mais velho dirigiu-se a uma estalagem, onde se gabou, em altas vozes, da poderosa varinha que arrebatara da própria Morte, e de que a arma o tornava invencível.
Na mesma noite, outro bruxo aproximou-se sorrateiramente do irmão mais velho enquanto dormia em sua cama, embriagado pelo vinho. O ladrão levou a varinha e, para se garantir, cortou a garganta do irmão mais velho.
Assim, a Morte levou o primeiro irmão.
Entrementes, o segundo irmão viajou para a própria casa, onde vivia sozinho. Ali, tomou a pedra que tinha o poder de ressuscitar os mortos e virou-a três vezes na mão. Para sua surpresa e alegria, a figura de uma moça que tivera esperança de desposar antes de sua morte precoce surgiu instantaneamente diante dele.
Contudo, ela estava triste e fria, como que separada dele por um véu. Embora tivesse retornado ao mundo dos mortais, seu lugar não era ali, e ela sofria. Diante disso, o segundo irmão, enlouquecido pelo desesperado desejo, matou-se para poder verdadeiramente se unir a ela.
Então, a Morte levou o segundo irmão.
Embora a Morte procurasse o terceiro irmão durante muitos anos, jamais conseguiu encontrá-lo. Somente quando atingiu uma idade avançada foi que o irmão mais moço despiu a Capa da Invisibilidade e deu-a de presente ao filho. Acolheu, então, a Morte como uma velha amiga e acompanhou-a de bom grado, e, iguais, partiram desta vida.

sábado, 22 de março de 2014

Os contos Beedle o Bardo


O CORAÇÃO PELUDO DO MAGO


Era uma vez um jovem mago rico, bonito e talentoso, que observou que seus amigos agiam como tolos quando se apaixonavam, se enfeitando, andando aos saltos e corridinhas, perdendo o apetite e a dignidade. O jovem mago resolveu jamais se deixar dominar por tal fraqueza, e recorreu às artes das trevas para garantir sua imunidade.
Sem saber do seu segredo, a família do mago achava graça de vê-lo tão distante e frio. "Tudo mudará", os vaticinavam, "quando uma donzela atrair seu interesse!"
O jovem mago, porém, permanecia impassível. Embora muita donzela se sentisse intrigada por seu ar altivo e recorresse às artes mais sutis para agradá-lo, nenhuma conseguia tocar seu coração. Ele se vangloriava de sua indiferença e da sagacidade que a produzira.
O frescor da juventude foi dissipando-se e os jovens de mesma idade e posição que o mago começaram a casar e a ter filhos. "O coração deles deve ser apenas uma casca", desdenhava ele mentalmente, observando o ridículo comportamento dos jovens pais ao seu redor, "ressecada pelas exigências desses pirralhos chorões!"
E mais uma vez ele se felicitou pela sabedoria da opção que fizera no primeiro momento. No devido tempo, os pais do mago, já idosos, faleceram. O filho não lamentou a morte deles; ao contrário, considerou-se abençoado por terem desaparecido. Agora ele reinava sozinho em seu castelo.
Depois de transferir o seu maior tesouro para a masmorra mais profunda, ele se entregou a uma vida desregrada e farta, na qual o seu conforto era o único objetivo dos inúmeros criados.
O mago estava convencido de que devia ser alvo da imensa inveja de todos que contemplavam sua solidão esplêndida e despreocupada.
Feroz, portanto, foi sua raiva e desgosto, quando um dia ouviu dois dos lacaios discutindo a sua pessoa.
O primeiro criado manifestou pena do mago que, com tanto poder e riqueza, continuava sem alguém que o amasse.
Seu colega, entretanto, desdenhou, perguntando por que um homem com tanto ouro e dono de tão esplêndido castelo não fora capaz de atrair uma esposa.
Tal conversa desferiu um terrível golpe no orgulho do mago que os ouvia.
Ele decidiu imediatamente escolher uma esposa, e uma que fosse superior a todas as existentes. Possuiria uma beleza assombrosa e provocaria inveja e desejo em todo homem que a contemplasse; descenderia de uma linhagem mágica para que seus filhos herdassem excepcionais dons de magia; e seria dona de uma fortuna no mínimo igual à dele, para garantir sua confortável existência, apesar do acréscimo de pessoas e despesas.
Encontrar tal mulher talvez levasse cinquenta anos, mas aconteceu que, no dia seguinte à sua decisão, chegou à vizinhança, em visita a parentes, uma donzela que correspondia a todos os seus desejos.
Era uma bruxa de prodigioso talento e dona de grande riqueza. Sua beleza era tanta que mexia com o coração de todos os homens que a contemplavam, isto é, todos, exceto um. O coração do mago não sentiu absolutamente nada. Contudo, a moça era o prêmio que ele buscava, e, assim sendo, começou a cortejá-la.
Todos que notaram a mudança no comportamento do mago ficaram surpresos e disseram à donzela que ela tivera êxito, onde uma centena de outras havia fracassado.
A jovem, por sua vez, sentiu ao mesmo tempo fascínio e repulsa pelas atenções do mago. Ela pressentiu a frieza que havia sob o calor de suas lisonjas, pois jamais conhecera um homem tão estranho e distante. Seus parentes, contudo, consideraram essa união extremamente desejável e muito interessada em promovê-la, aceitaram o convite do mago para um grande banquete em homenagem à donzela.
A mesa, carregada com peças de ouro e prata, continha os mais finos vinhos e as comidas mais suntuosas. Menestréis dedilhavam alaúdes de cordas sedosas e cantavam um amor que o seu senhor jamais sentira. A donzela sentou-se em um trono ao lado do mago, que lhe falava suavemente, empregando palavras de carinho que roubara dos poetas, sem a mínima idéia do seu real significado.
A donzela ouvia intrigada, e por fim respondeu:
- Você fala bonito, mago, e eu ficaria encantada com suas atenções, se ao menos acreditasse que você tem coração!
O mago sorriu e lhe respondeu que, quanto a isso, ela não precisava temer. Pediu-lhe que o acompanhasse e, conduzindo-a para fora do salão, desceu à masmorra trancada à chave onde guardava o seu maior tesouro.
Ali, em uma caixa de cristal encantada, encontrava-se o coração pulsante do mago.
Há muito tempo desligado dos olhos, ouvidos e dedos, o coração jamais se deixara cativar pela beleza, ou por uma voz musical, ou pelo tato de uma pele sedosa. A donzela ficou aterrorizada ao vê-lo, pois o coração encolhera e se cobrira de longos pêlos negros.
— Ah, o que você fez! — lamentou ela. — Reponha o coração no lugar a que pertence, eu lhe imploro!
Ao perceber que isto era necessário para agradá-la, o mago apanhou a varinha, destrancou a caixa de cristal, abriu o próprio peito e repôs o coração peludo na cavidade vazia que outrora ocupara.
- Agora você está curado e conhecerá o verdadeiro amor! — exclamou a donzela e abraçou-o.
O toque dos macios braços alvos da donzela, o som de sua respiração no ouvido dele, o aroma dos seus cabelos dourados; tudo isto penetrou como uma lança o seu coração recém- despertado. Mas o órgão se corrompera durante o longo exílio, cego e selvagem na escuridão a que fora condenado, seus apetites tinham se tornado voraz e perverso.
Os convidados ao banquete notaram a ausência do anfitrião e da donzela. A princípio despreocupados, começaram, porém, a se sentir ansiosos à medida que as horas passavam e, por fim, decidiram revistar o castelo.
Acabaram encontrando a masmorra, onde uma cena aterrorizante os aguardava. A donzela jazia morta no chão, de peito aberto, e ao seu lado ajoelhava-se o mago enlouquecido, segurando em uma das mãos ensangüentadas um grande e reluzente coração, que ele lambia e acariciava, jurando trocá-lo pelo seu.
Na outra mão, ele empunhava a varinha, tentando induzir o coração murcho e peludo a sair do próprio peito. O coração, porém, era mais forte do que ele e se recusou a renunciar ao controle dos seus sentidos ou a retornar à urna em que estivera trancado por tanto tempo.
Diante do olhar aterrorizado dos convidados, o mago atirou para um lado a varinha e agarrou uma adaga de prata. Jurando jamais ser dominado pelo próprio coração, arrancou-o do peito.
Por um momento, o mago permaneceu de joelhos, triunfante, segurando um coração em cada mão; em seguida caiu atravessado sobre o corpo da donzela e morreu.

sexta-feira, 21 de março de 2014

O Inicio

                                                                                    
Na mitologia grega, Cronos era o deus da agricultura e também simbolizava o tempo. Filho de Urano (céu) e Gaia (terra) era o mais jovem da primeira geração de titãs. De acordo com a mitologia, Cronos tirou seu pai do poder, casou-se com a irmã Réia e governou durante a Idade Dourada da mitologia. Seu poder perdurou até ser derrubado pelos filhos Zeus, Poseidon e Hades.
De acordo com a mitologia, Cronos temia uma profecia segundo a qual seria tirado do poder por um de seus filhos. De temperamento violento e negativo, Cronos passou a matar e devorar todos os filhos gerados com Réia. Porém, a mãe conseguiu salvar um deles, Zeus, escondendo-o numa caverna da ilha de Creta.  Para enganar Cronos, Réia deu a ele uma pedra embrulhada num pano que ele comeu sem perceber.
Ao crescer, Zeus libertou os titãs e com a ajuda deles fez Cronos vomitar os irmãos (Hades, Hera, Héstia, Poseidon e Deméter). Zeus, com a ajuda dos irmãos e dos titãs, expulsou Cronos do Olimpo e governou como o rei dos deuses gregos. Como tinha derrotado o pai Cronos, que simbolizava o tempo, Zeus tornou-se imortal, poder estendido também aos irmãos.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Os contos Beedle o Bardo

BABBITTY, A COELHA, E SEU TOCO GARGALHANTE


Há muitos e muitos anos, em uma terra muito distante, vivia um rei apalermado que decidiu que somente ele devia ter poderes mágicos. Assim, ordenou que o chefe do seu exército formasse uma Brigada de Caçadores de Bruxos, e equipou-a com uma matilha de ferozes cães negros.
Ao mesmo tempo, determinou que em cada aldeia e cidade de suas terras fosse lida a seguinte proclamação: "O rei procura um Instrutor de Magia.” Nenhum bruxo ou bruxa ousou se candidatar ao cargo, pois estavam todos escondidos da Brigada de Caçadores de Bruxos. Entretanto, um astucioso charlatão, sem qualquer poder mágico, viu nisso uma chance de enriquecer e apresentou-se ao palácio como um bruxo de enorme perícia. O charlatão executou alguns truques simples que convenceram o rei dos seus poderes mágicos, e foi imediatamente nomeado Grande Feiticeiro-Chefe, Mestre Régio de Magia.
O charlatão pediu ao rei que lhe desse um polpudo saco de ouro para ele poder comprar varinhas e outros materiais mágicos necessários. Pediu, ainda, vários rubis graúdos para serem usados no lançamento de feitiços curativos e uns dois cálices de prata para guardar e maturar poções. Tudo isso o apalermado rei lhe entregou.
O charlatão guardou o tesouro a salvo em sua própria casa e voltou aos jardins do palácio. Ele não sabia, no entanto, que estava sendo observado por uma velha que vivia em um casebre na periferia dos jardins do palácio.
Seu nome era Babbitty, e ela era uma lavadeira que mantinha as roupas de cama e mesa do palácio macias, cheirosas e alvas. Espreitando por trás dos lençóis que secavam no varal, Babbitty viu o charlatão partir dois galhinhos de uma das árvores do rei e desaparecer no interior do palácio.
O charlatão entregou um dos gravetos ao rei e lhe garantiu que era uma varinha de formidável poder.
— Mas somente produzirá resultados — disse o charlatão — quando o senhor se mostrar merecedor.
Toda manhã o charlatão e o apalermado rei saíam aos jardins onde agitavam suas varinhas e bradavam disparates para o céu. O charlatão tinha o cuidado de executar mais truques, de modo a manter o rei convencido da perícia do seu grande feiticeiro e do poder das varinhas que tinham lhe custado tanto ouro.
Certa manhã, quando o charlatão e o rei apalermado faziam floreios com suas varinhas, pulava em círculos e entoavam rimas sem sentido, uma grande gargalhada chegou aos ouvidos do rei.
Babbitty, a lavadeira, apreciava o rei e o charlatão da janela de sua casinha, e gargalhava com tanto gosto que não tardou a desaparecer de vista, fraca demais para continuar de pé.
— Devo parecer muito indigno para fazer a velha lavadeira dar tantas risadas — disse o rei. Ele parou de pular e agitar a varinha e enrugou a testa. - Estou cansado de praticar! Quando estarei pronto para realizar feitiços régios diante dos meus súditos, feiticeiro?
O charlatão tentou tranquilizar seu discípulo, assegurando-lhe que logo seria capaz de feitos mágicos surpreendentes. Porém, as gargalhadas de Babbitty incomodaram o rei mais do que o charlatão imaginava.
— Amanhã — disse o rei —, convidaremos nossa corte para assistir ao seu rei realizar mágicas!
O charlatão viu que chegara a hora de apanhar seu tesouro e fugir.
— Ai de mim, será impossível! Esqueci-me de informar Vossa Majestade que preciso sair amanhã em uma longa viagem...
— Se você deixar este palácio sem a minha permissão, feiticeiro, minha Brigada de Caçadores de Bruxos o perseguirá com os seus cães! Amanhã de manhã você me ajudará a realizar mágicas diante dos nossos lordes e damas, e se alguém rir de mim mandarei decapitá-lo!
O rei entrou enfurecido no palácio, deixando o charlatão só e amedrontado. Agora nem toda a sua astúcia seria capaz de salvá- lo, pois não poderia fugir nem tampouco ajudar o rei com a magia que nenhum dos dois conhecia.
Procurando uma válvula para aliviar seu medo e raiva, o charlatão se aproximou da janela de Babbitty, a lavadeira. Espiando para dentro da casa, viu a velhinha sentada à mesa, encerando uma varinha. Em um canto às suas costas, os lençóis do rei estavam se lavando sozinhos em uma tina de madeira.
O charlatão compreendeu imediatamente que Babbitty era uma bruxa genuína, e que, tendo lhe causado aquele terrível problema, poderia também resolvê-lo.
— Sua bruxa velha! — berrou o charlatão. — Sua gargalhada me custou caro! Se não me ajudar, vou denunciá-la, e você é que será despedaçada pelos cães do rei!
A velha Babbitty sorriu para o charlatão e tranquilizou-o, dizendo que faria tudo em seu poder para ajudá-lo. O charlatão lhe deu instruções para se esconder em uma moita enquanto o rei apresentava o seu espetáculo de magia, e para executar os feitiços do rei sem que ele soubesse. Babbitty concordou com o plano, mas fez uma pergunta.
— E, meu senhor, se o rei tentar um feitiço que Babbitty não seja capaz de realizar?
O charlatão zombou.
— A sua mágica é superior à imaginação daquele tolo — garantiu- lhe o homem e se retirou para o castelo muito satisfeito com a própria esperteza.
Na manhã seguinte todos os lordes e damas do reino se reuniram nos jardins do palácio. O rei subiu a um palco à frente deles acompanhado pelo charlatão.
— Primeiro, farei o chapéu dessa dama desaparecer! — anunciou o rei, apontando o seu galhinho para uma dama.
Do meio de uma moita próxima, Babbitty apontou a varinha para o chapéu e o fez sumir. Grande foi o espanto e a admiração da nobreza e forte o seu aplauso para o jubiloso rei.
— A seguir, farei aquele cavalo voar! — anunciou o rei, apontando o galhinho para o próprio ginete.
Do meio da moita, Babbitty apontou a varinha para o cavalo e o animal se elevou no ar. Os nobres ficaram ainda mais arrebatados e surpresos, e, aos gritos, manifestaram o seu apreço pelo rei mágico.
— E, agora — disse o rei, correndo o olhar ao redor em busca de uma idéia; e o capitão de sua Brigada de Caçadores de Bruxos correu para o rei.
- Majestade — disse o capitão — esta manhã, Sabre morreu depois de comer um cogumelo venenoso! Ressuscite-o, majestade, com a sua varinha!
E o capitão carregou até o palco o corpo sem vida do maior dos cães caçadores de bruxos.
O apalermado rei brandiu o seu galhinho e apontou para o cão morto. Mas, no meio da moita, Babbitty sorriu, e não se deu sequer o trabalho de erguer a varinha, porque nenhuma mágica é capaz de ressuscitar os mortos.
Ao ver que o cão continuava imóvel, os nobres começaram primeiro a murmurar e depois a rir. Desconfiaram que os primeiros dois feitos do rei, afinal, não tinham passado de simples truques.
Por que não está funcionando? — gritou o rei para o charlatão, que recorreu ao último ardil que lhe restava.
Ali, majestade, ali! — gritou ele, apontando para a moita onde Babbitty estava escondida. — Vejo-a claramente, a bruxa má que está bloqueando a nossa magia com os seus próprios feitiços malignos! Prenda-a, alguém, prenda-a!
Babbitty fugiu da moita, e a Brigada de Caçadores de Bruxos saiu em sua perseguição, soltando os cães, que latiram longamente, sedentos pelo sangue da bruxa. Mas, ao alcançar uma sebe baixa, a bruxa desapareceu de vista, e quando o rei, o charlatão e todos os cortesãos chegaram ao outro lado, encontraram a matilha caçadora latindo e escarafunchando ao redor de uma árvore velha e curvada.
— Ela se transformou em uma árvore! — berrou o charlatão e, temendo que Babbitty retomasse sua forma humana e o denunciasse, acrescentou:
— Derrube-a, Vossa Majestade, é assim que se lida com bruxas más!
Imediatamente trouxeram um machado, e a velha árvore foi abatida com sonoros vivas dos cortesãos e do charlatão. Entretanto, quando se preparavam para retornar ao palácio, o som de uma gargalhada os fez parar de estalo.
— Tolos! — exclamou a voz de Babbitty do toco que eles haviam deixado para trás. — Bruxos e bruxas não podem ser mortos rachando-os ao meio! Se não acreditam em mim, peguem o machado e cortem o grande feiticeiro ao meio!
O capitão da Brigada de Caçadores de Bruxos se apressou a fazer a experiência, mas, quando ergueu o machado, o charlatão caiu de joelhos pedindo misericórdia e confessando toda a sua maldade. Ao vê-lo sendo arrastado para a masmorra, o toco de árvore gargalhou mais alto que nunca.
— Quando cortou uma bruxa ao meio, Vossa Majestade desencadeou uma terrível maldição sobre o seu reino! — disse o toco ao rei aterrorizado. - De hoje em diante, cada maldade que o senhor infligir aos meus companheiros bruxos se refletirá como uma machadada do lado do seu corpo, até o senhor desejar morrer.
Ao ouvir isso, o rei também caiu de joelhos e disse ao toco que faria imediatamente uma proclamação, protegendo todos os bruxos do seu reino e deixando-os praticar sua magia em paz.
— Muito bem — disse o toco —, mas o senhor ainda não compensou Babbitty!
— Farei qualquer coisa, qualquer coisa que pedir! — exclamou o apalermado rei, torcendo as mãos diante do toco.
- O senhor construirá uma estátua de Babbitty em cima de mim, em memória da sua pobre lavadeira, para lembrá-lo para sempre de sua própria tolice! — ordenou o toco.
O rei concordou imediatamente e prometeu contratar o maior escultor da terra para fazer uma estátua de ouro puro. Depois o envergonhado rei e toda a nobreza retornaram ao palácio, deixando o toco dando gargalhadas às suas costas. Quando os jardins se esvaziaram novamente, esgueirou-se do buraco entre as raízes do toco uma velha coelha robusta e bigoduda com uma varinha presa entre os dentes. Babbitty saiu saltando pelos jardins para muito longe, a estátua de ouro da lavadeira, que recobria o toco, durou para sempre, e nunca mais os bruxos foram perseguidos naquele reino.

quarta-feira, 19 de março de 2014

História

Leto ao ficar grávida, a sua mãe sofreu a ira de Hera (velha briga entre amante e esposa) que a perseguiu a ponto de nenhum lugar, com receio da deusa rainha, a querer conceber seus filhos. Leto esperava gêmeos (já é difícil engolir a traição e um filho, mas dois já é de mais não acham), e Ártemis, tendo sido a primeira a nascer, revelou os seus dotes de parteira auxiliando no parto de seu irmão Apolo. Também é conhecida como Cíntia, devido ao seu local de nascimento, o monte Cinto.

Um amor e duas constelações

Nossa já sinto as pessoas de escorpião animadas com esta história...
Certa vez Ártemis estava em seus afazeres no mundo divino e se deparou com a figura mais bela que já vira no mundo mortal, o jovem Orion. Apaixonada perdidamente pelo morta queria torná-lo seu consorte, mas seu irmão Apolo estava enciumado pela irmã (claro ele nunca teve capacidade de amar alguém se que essa pessoa morra) impediu o romance através de um grande plano:

Achando-se em uma praia no mediterrâneo, Ártemis e Apolo aproveitavam um entardecer digno dos deuses, no entanto além da contemplação Apolo desafiou sua irmã em uma competição de arco. Ele apontou lá longe no horizonte um ponto negro, e a desafiou a atingi-lo, como a distância era grande Ártemis não conseguiu distingui-lo. Tomada pela competição ela pegou o seu arco, mirou e acertou o seu prêmio, que logo desapareceu no abismo do mar, fazendo-se substituir por uma espuma ensangüentada. 



Após isso ela foi pegar o seu prêmio, mas se deparou com Orion que ali nadava, fugindo de um enorme escorpião que Apolo botou para persegui-lo. Ao saber do desastre, Ártemis, cheia de desespero (e não era para menos) convenceu o seu pai, Zeus, que a vítima e o escorpião  fossem transformados em constelação.
Quando a de Órion se põe, a de escorpião nasce, sempre o perseguindo, mas sem nunca alcançar. 

Os contos Beedle o Bardo

A FONTE DA SORTE


No alto de um morro, em um jardim encantado envolto por muros altos e protegido por poderosa magia, jorrava a Fonte da Sorte. Uma vez por ano, entre o nascer e o pôr-do-sol do dia mais longo do ano, um único infeliz recebia a oportunidade de competir para chegar à fonte, banhar-se em suas águas e ter sorte a vida inteira.
No dia aprazado, centenas de pessoas viajavam de todo o reino para chegar ao jardim antes do alvorecer. Homens e mulheres, ricos e pobres, jovens e velhos, dotados ou não de poderes mágicos reuniam-se no escuro, cada qual na esperança de ser o escolhido para entrar no jardim.
Três bruxas, com seus problemas e preocupações, encontraram-se nas cercanias da multidão, e contaram umas às outras suas tristezas enquanto esperavam o sol nascer.
A primeira, cujo nome era Asha, sofria de uma doença que nenhum curandeiro conseguia eliminar. Ela esperava que a fonte fizesse desaparecer os seus sintomas e lhe concedesse uma vida longa e feliz.
A segunda, cujo nome era Altheda, tivera sua casa, seu ouro e sua varinha roubados por um bruxo malvado. Ela esperava que a fonte a aliviasse de sua fraqueza e pobreza.
A terceira, cujo nome era Amata, fora abandonada por um homem a quem amava profundamente, e acreditava que seu coração partido jamais se recuperaria. Esperava que a fonte aliviasse sua dor e saudade.
Apiedando-se umas das outras, as três mulheres concordaram que, se lhes coubesse a chance, elas se uniriam e tentariam chegar à fonte juntas.
O primeiro raio de sol rasgou o céu, e uma fresta se abriu no muro. A multidão avançou, cada pessoa exigindo, aos gritos, a bênção da fonte. Plantas rastejantes do interior do jardim serpearam pela massa ansiosa e se enrolaram na primeira bruxa, Asha. Ela agarrou o pulso da segunda bruxa, Altheda, que segurou com força as vestes da terceira bruxa, Amata. E Amata se enredou na armadura de um cavaleiro de triste figura que montava um cavalo esquelético.
As plantas rastejantes puxaram as três bruxas pela fresta do muro, e o cavaleiro foi derrubado do seu ginete atrás delas.
Os gritos furiosos da multidão desapontada se ergueram no ar matinal, e silenciaram quando os muros do jardim se fecharam mais uma vez.
Asha e Altheda se zangaram com Amata, que, acidentalmente, trouxera junto o cavaleiro.
— Apenas um pode se banhar na fonte! Já será bem difícil decidir qual de nós será, sem adicionar mais um!
Ora, o Cavaleiro Azarado, como era conhecido nas terras além-muros, observou que as mulheres eram bruxas e, não sendo ele dotado de magia, nem de grande perícia em torneios e duelos com espadas, nem de nada que o distinguisse como homem não mágico, ficou convencido de que não havia esperança de chegar à fonte antes das três mulheres. Anunciou, portanto, sua intenção de sair do jardim.
Ao ouvir isso, Amata se aborreceu também.
- Medroso! — ela o censurou. — Desembainhe sua espada, Cavaleiro, e nos ajude a atingir a nossa meta.
E, assim, as três bruxas e o infeliz cavaleiro se aventuraram pelo jardim encantado, onde ervas raras, frutos e flores cresciam em abundância à margem de caminhos ensolarados. Eles não encontraram obstáculo algum até alcançar o sopé do morro em que se erguia a fonte.
Ali, enrolado na base do morro, havia um monstruoso verme branco, inchado e cego. À aproximação do grupo, ele virou uma cara feia e malcheirosa e proferiu as seguintes palavras:

"Paguem-me a prova de suas dores."

O Cavaleiro Azarado sacou a espada e tentou matar o bicho, mas a espada se partiu. Então Altheda atirou pedras no verme, enquanto Asha e Amata experimentaram todos os feitiços que poderiam subjugá-lo ou hipnotizá-lo, mas o poder de suas varinhas não foi mais eficaz do que a pedra da amiga ou a espada do cavaleiro: o verme não quis deixá-los passar.
O sol foi subindo sempre mais alto no céu e Asha, desesperada, começou a chorar. Então o enorme verme encostou o focinho no rosto dela e bebeu suas lágrimas. Saciada a sede, o verme deslizou para um lado e sumiu por um buraco no chão.
Exultantes com o sumiço do verme, as três bruxas e o cavaleiro começaram a subir o morro, certos de que chegariam à fonte antes do meio-dia.
A meio caminho da subida íngreme, porém, eles encontraram palavras gravadas no chão.

Paguem-me os frutos do seu árduo trabalho.

O Cavaleiro Azarado apanhou sua única moeda e colocou-a na encosta relvada, mas ela rolou para longe e se perdeu. As três bruxas e o cavaleiro continuaram a subir, e, embora tivessem andado durante horas, não avançaram um único passo; o topo continuava distante e a inscrição permanecia no chão diante deles.
Todos se sentiram desanimados quando viram o sol passar sobre suas cabeças e começar a declinar em direção ao longínquo horizonte, mas Altheda andou mais rápido e, empenhando mais esforço do que os demais, estimulava-os a seguir seu exemplo, embora tampouco avançasse na subida do morro encantado.
— Coragem, amigos, não fraquejem! — gritava ela, enxugando o suor do rosto.
A medida que as gotas caíam, cintilantes, na terra, a inscrição que bloqueava o caminho desaparecia, e eles descobriram que podiam prosseguir. Encantados com a remoção do segundo obstáculo, correram para o alto o mais rápido que puderam, até que, por fim, avistaram a fonte, refulgindo cristalina em meio a árvores e flores.
Antes de alcançá-la, no entanto, encontraram barrando o seu caminho um riacho que circundava o topo do morro. No fundo da água transparente havia uma pedra lisa com as seguintes palavras:

Paguem-me o tesouro do seu passado.

O Cavaleiro Azarado tentou atravessar o curso d'água flutuando sobre seu escudo, mas afundou. As três bruxas o tiraram de dentro do riacho e tentaram saltar por cima da água, mas o riacho não as deixou atravessar, e todo o tempo o sol ia baixando pelo céu.
Eles começaram, então, a refletir sobre o significado da mensagem na pedra, e Amata foi a primeira a compreendê-la. Apanhando a varinha, apagou da mente todas as lembranças dos momentos felizes que passara com o seu amor desaparecido e deixou-as cair na correnteza. O riacho as levou para longe, deixando aparecer pedras planas e, finalmente, as três bruxas e o cavaleiro puderam atravessar em direção ao topo do morro.
A fonte refulgiu diante dos quatro, emoldurada pelas ervas e flores mais raras e mais belas que jamais tinham visto. O céu coloriu-se de vermelho, e chegou a hora de decidir qual deles iria se banhar. Antes, porém, que chegassem a uma conclusão, a franzina Asha tombou no chão. Exausta com o esforço da subida, estava à beira da morte.
Seus três amigos a teriam carregado até a fonte, mas Asha, em agonia mortal, lhes pediu que não a tocassem. Então Altheda se apressou a colher as ervas que julgou mais úteis, misturou-as na cabaça de água do Cavaleiro Azarado e levou a poção à boca de Asha.
Na mesma hora, Asha conseguiu se pôr de pé. Além disso, todos os sintomas de sua terrível enfermidade tinham desaparecido.
— Estou curada! — exclamou ela. — Não preciso da fonte; deixem Altheda se banhar!
Altheda, porém, estava ocupada colhendo mais ervas em seu avental.
— Se fui capaz de curar essa doença, posso ganhar muito ouro! Deixem Amata se banhar!
O Cavaleiro Azarado se inclinou e, com um gesto, indicou a fonte a Amata, mas ela sacudiu a cabeça. O riacho tinha lavado todos os seus desapontamentos de amor, e ela percebia agora que o antigo amado fora insensível e infiel, e que era uma grande felicidade ter se livrado dele.
— Bom cavaleiro, o senhor deve se banhar, em recompensa por toda a sua nobreza! — disse ela ao Cavaleiro Azarado.
Então ele avançou a armadura tinindo aos últimos raios do sol poente e se banhou na Fonte da Sorte, admirado por ter sido o escolhido entre centenas de outros e atordoado com a sua inacreditável fortuna.
Quando o sol se pôs no horizonte, o Cavaleiro Azarado se ergueu das águas sentindo-se glorioso com o seu triunfo, e se atirou, ainda vestindo a armadura enferrujada, aos pés de Amata, a mulher mais bondosa e bela que já contemplara. Alvoroçado com o sucesso, pediu sua mão e seu coração, e Amata, não menos feliz, percebeu que encontrara um homem que merecia os dois.
As três bruxas e o cavaleiro desceram o morro juntos, de braços dados, e os quatro levaram vidas longas e venturosas, sem jamais saber nem suspeitar que as águas da fonte não possuíam encanto algum.

terça-feira, 18 de março de 2014

Os contos Beedle o Bardo

   
O BRUXO E O CALDEIRÃO SALTITANTE
Era uma vez um velho bruxo muito bonsoso que usava a magia com generosidade e sabedoria para beneficiar seus vizinhos. Em vez de revelar a verdadeira fonte de seu poder, ele fingia que suas poções, amuletos e antídotos saíam prontos de um pequeno caldeirão a que ele chamava de sua panelinha da sorte. De muitos quilômetros ao redor, as pessoas vinham lhe trazer seus problemas, e o bruxo, prazerosamente, dava uma mexida na panelinha e resolvia tudo.
Esse bruxo muito querido viveu até uma idade avançada e, ao morrer, deixou todos os seus bens para o único filho. O rapaz, porém, tinha uma natureza bem diferente da do bom pai. Na sua opinião, quem não sabia fazer mágicas não valia nada, e ele muitas vezes discordara do hábito que o pai tinha de ajudar os vizinhos com sua magia.
Quando o velho morreu, o jovem encontrou escondido no fundo da velha panela um embrulhinho com o seu nome. Abriu-o na expectativa de ver ouro, mas, em lugar disso, encontrou uma pantufa grossa e macia, pequena demais para ele e sem par. Dentro dela, um pedaço de pergaminho trazia a seguinte frase: "Afetuosamente, meu filho, na esperança de que você jamais precise usá-la." O filho amaldiçoou a caduquice do pai e atirou a pantufa no caldeirão, decidindo que passaria a usá-lo como lixeira.
Naquela mesma noite, uma camponesa bateu à porta da casa.
— Minha neta apareceu com uma infestação de verrugas, meu senhor. O seu pai costumava preparar uma cataplasma especial naquela panela velha...
— Fora daqui! — exclamou o filho — Quem e importam as verrugas da sua pirralha?
E bateu a porta na cara da velha. Na mesma hora, ele ouviu clangores e rumores que vinham da cozinha. O bruxo acendeu sua varinha e abriu a porta, e ali, para seu espanto, viu que brotara um pé de latão na velha panela do pai, e o objeto pulava no meio da cozinha fazendo uma zoada assustadora no piso de pedra. O bruxo se aproximou admirado, mas recuou ligeiro quando viu que a superfície da panela estava inteiramente coberta de verrugas.
— Objeto nojento! — exclamou ele, e, com feitiços, tentou primeiro fazer desaparecer o caldeirão, depois limpá-lo e, por fim, expulsá-lo de casa. Nenhum dos feitiços, porém, fez efeito, e ele não pôde impedir o caldeirão de segui-lo saltitante para fora da cozinha, e depois subir com ele para o quarto, alternando batidas surdas e estridentes a cada degrau da escada de madeira.
O bruxo não conseguiu dormir a noite toda por causa das batidas da velha panela verrugosa ao lado de sua cama, e, na manhã seguinte, a panela insistiu em acompanhá-lo, aos saltos, à mesa do café-da-manhã. Plem, plem, plem fazia o pé de latão, e o bruxo ainda nem começara o seu mingau de aveia quando ouviu outra batida na porta.
Havia um velho parado na soleira.
— É a minha velha jumenta, meu senhor — explicou ele. — Perdeu-se ou foi roubada, e sem ela não possuo levar os meus produtos ao mercado e minha família passará fome hoje à noite.
— Com fome estou eu agora! — bradou o bruxo, e bateu a porta na cara do velho.
Plem, plem, plem fez o caldeirão no chão com aquele seu único pé de latão, mas agora o estrépito se misturava aos zurros de um jumento e aos gemidos humanos de fome que vinham de suas profundezas.
— Pare! Silêncio! — guinchou o bruxo, mas todos os seus poderes mágicos não conseguiram calar a panela verrugosa, que o seguiu saltitando o dia todo, zurrando e gemendo e clangorando, aonde quer que ele fosse ou o que quer que fizesse.
Naquela noite ouviu-se uma terceira batida na porta, e ali, na soleira, estava parada uma jovem mulher soluçando como se o seu coração fosse partir de dor.
— O meu filhinho está gravemente doente — disse ela. — Por favor, pode nos ajudar? Seu pai me disse para vir se tivesse algum pro...
Mas o bruxo bateu a porta na cara da jovem.
E agora a panela atormentadora se encheu até a borda de água salgada e derramou lágrimas por todo o chão enquanto pulava, zurrava, gemia e fazia brotar ainda mais lágrimas. Embora, pelo resto da semana, nenhum outro aldeão tivesse vindo à cabana do bruxo buscar ajuda, a panela o manteve informado dos seus muitos males. Em poucos dias ela não estava apenas zurrando, gemendo, transbordando, pulando e brotando verrugas, mas também engasgando e tendo ânsias de vômito, chorando como um bebê, ganindo feito um cão e cuspindo queijo estragado, leite azedo e uma praga de lesmas vorazes.
O bruxo não conseguia dormir nem comer com a panela ao seu lado, mas ela se recusava a sumir dali, e ele não podia silenciar nem forçar o caldeirão a parar.
Por fim, não aguentou mais.
— Tragam-me todos os seus problemas, todas as suas preocupações e todas as suas tristezas! — gritou, fugindo noite adentro, com a panela perseguindo-o aos saltos pela estrada que levava à aldeia. — Venham! Deixem que eu cure vocês, recupere vocês e console vocês! Tenho a panela do meu pai e vou remediar tudo!
E, com a detestável panela ainda a persegui-lo saltitante, ele correu pela rua principal lançando feitiços para todos os lados. Dentro de uma casa, as verrugas da garotinha desapareceram enquanto ela dormia; a jumenta perdida foi trazida de um urzal distante e suavemente deixada em seu estábulo; o bebê doente foi umedecido com ditamno e acordou bom e rosado. Em todas as casas em que havia doença e tristeza, o bruxo fez o melhor que pôde, e gradualmente a panela ao seu lado parou de gemer e ter ânsias de vômito, e sossegou, reluzente e limpa.
- E então Panela? — perguntou o bruxo trêmulo, quando o sol começou a despontar.
A panela arrotou o pé de pantufa que ele havia jogado em seu fundo, e permitiu que o bruxo o calçasse em seu pé de latão. Juntos, eles regressaram à casa, os passos da panela finalmente abafados. Mas, daquele dia em diante, o bruxo passou a ajudar os aldeões exatamente como fazia seu pai, antes dele, para que a panela não descalçasse a pantufa e recomeçasse a saltitar.

Recomendação

 A primeira fanfic que vou recomendar e de Harry Potter e Percy Jackson.
 Essa fanfiction e com os personagens de Percy Jackson e Herois do Olimpo no mundo de Harry Potter [confuso ne???!].No começo eu achei ela meio estranha mais depois me apaixonei a autora escreve super bem e apezar de seguir o enrredo dos livros de HP vc sempre se surpreende com oque acontece na historia.
Ela infelizmente já esta finalizada então não corre o risco da autora desistir no meio da fic [odeio quando isso acontece [sei que os autores tem vida pessoal mais eu tenho curiosidade]]
Um Beijo e boa leitura.                                                                                                   
Demigods in Hogwarts  [Link aki > fanfic

A Marca De Atena

Eu achei muito divo

segunda-feira, 17 de março de 2014

                                             Perséfone, a rainha da Morte e da Primavera
Hades sempre fora um deus soturno, solitário e recolhido em si. Nascera da união entre Cronos e Réia (Cibele). Cronos, deus do tempo e rei dos deuses, temendo à profecia de que um dos filhos o iria destronar e aprisionar, devorou-o tão logo nasceu. Mais tarde, Hades foi vomitado pelo pai, depois que o irmão Zeus dera ao deus do tempo, uma porção mágica para ingerir. Saído das entranhas de Cronos, Hades lutou ao lado dos irmãos contra o reinado do pai. Após a vitória, coube a ele, por seu jeito taciturno e solitário, reinar sobre os mortos.
Hades mostrava-se imune ao amor de qualquer deusa ou de qualquer mortal. Seu frio coração irritava Afrodite (Vênus), deusa do amor, que sempre fizera deuses e mortais sucumbirem à sua arte. Hades continuava com o coração intacto e frio. Corria solitário todas as partes do Érebo, que governava energicamente. Um dia, Hades ouviu as varas que os humanos batiam sobre a terra, invocando-o com o sacrifício de duas cabras negras. Ao sentir o sangue quente dos animais molhar o chão, Hades pôs sobre a cabeça o capacete que o deixava invisível, emergindo das entranhas mais profundas da terra, até a superfície do mundo dos vivos, aceitando assim, o sacrifício.
Raramente o senhor dos mortos vinha ao mundo dos vivos. Na terra os campos eram eternamente floridos e cobertos de frutos. Hades caminhava invisível, por onde passava, trazia um vento frio que soprava sobre os humanos, fazendo-os arrepiar e a invocar proteção aos deuses do Olimpo. Caminhando solitário, Hades avistou ao longe, no meio do bosque florido, a mais bela jovem que os seus olhos já tinham contemplado. Era Core. Com o coração a bater como nunca sentira dantes, o frio senhor dos mortos viu emergir de dentro dele um estranho e implacável calor. Invisível, aproximou-se de Core e das amigas. Carinhosamente soprou em seus ouvidos. Core sentiu aquele estranho sopro. Enquanto as amigas arrepiaram-se de temor, a jovem arrepiou-se acometida de uma ternura infinita. 
Perséfone                               sorriu, de repente, o que fez com
que Hades se mostrasse visível aos seus olhos. A bela jovem viu surgir à frente o rosto daquele deus forte, olhar grave, de sorriso escorrido e gestos austeros. Apaixonado, Hades cobriu o cabelo de Core com as violetas que colhera no bosque. Revelou-lhe o amor e o desejo de fazê-la a sua esposa eterna. Core ouviu a declaração de Hades, mas nada respondeu, precisava consultar a mãe, a deusa Deméter (Ceres), e o pai, o poderoso Zeus.
Mas o imprevisto aconteceu, Deméter, deusa da agricultura e dos alimentos, sabia que o reino de Hades, o seu irmão, era nas profundezas da terra. Decidiu que não se iria separar da filha, proibindo que ela desposasse o senhor da escuridão.
Hades ficou inconsolável. Subiu ao Olimpo e pediu a ajuda do irmão Zeus. Estava perdidamente apaixonado por Perséfone, já não conseguia viver sem ela. Zeus ouviu o irmão, como sabia da recusa de Deméter em deixar a filha partir para o Érebo, aconselhou a Hades que esperasse algum tempo, para convencer a deusa da agricultura a aceitar o casamento da filha.
Algum tempo se passou, mas Deméter não removeu a recusa. Proibiu definitivamente que Hades cortejasse a filha. Diante da dor causada pelos obstáculos impostos por Deméter, Hades não desistiu, fortaleceu ainda mais o amor que trazia dentro de si. Perdido de paixão, subiu à Terra, disposto a ter definitivamente, o amor da bela Core, mesmo sem a permissão de Deméter.
Hades foi encontrar Core a passear pelo vale de Ena, que trazia em sua paisagem a beleza da eterna primavera. A bela colhia os lírios e as violetas às margens do lago de água cristalina. De repente surgiu o mais belo dos narcisos à beira do lago, de uma cor tão reluzente que encantou Core. Como se hipnotizada pela flor, ela debruçou-se sobre o lago para pegá-lo. Foi quando a terra abriu-se em um imenso abismo de escuridão, dele emergindo um carro de ouro puxado por cavalos, conduzidos pelo próprio Hades. Num impulso rápido e certeiro, o senhor do Érebo arrebatou a frágil e bela Perséfone. Assustada, a jovem lançou um grande grito que ecoou pelos campos, enquanto o carro de ouro a conduzia até o Tártaro.
Deméter ouviu o grito da filha. Correu em seu auxílio, mas quando chegou, viu a terra fechar-se e ela desaparecer nas profundezas do mundo dos mortos. Desesperada, a deusa procura pela filha. Ninguém no Olimpo sabe o que lhe aconteceu. Quem lhe alivia a falta de notícias é Hélios (Sol), que tudo vê, revelando à deusa que Hades tinha raptado Core. Zeus confirma o rapto. Revela à deusa que Core ao cruzar as fronteiras dos Infernos, tornara-se a esposa de Hades, e como rainha do Érebo, passou a chamar-se Perséfone (Prosérpina). Sem poder atravessar as fronteiras do Érebo em socorro da filha, indignada com Zeus e Hades, Deméter abandou o Olimpo, indo viver com os homens da terra. Abandonou os campos e as plantações, deixando de proteger as colheitas. A primavera eterna desapareceu da terra, levando-a ao inverno e à fome.
Zeus viu a fome assolar a humanidade. Interviu diante de Deméter, mas a deusa só voltaria a proteger a agricultura e aos campos se tivesse a filha de volta. À face da catástrofe que se abatia sobre o mundo, Zeus enviou Hermes (Mercúrio), ao reino de Hades, com a ordem de que ele devolvesse Perséfone à mãe, para evitar que a humanidade faminta, rebelasse-se contra o poder dos deuses.
Hades não se contentou em perder a amada. Mas não poderia desobedecer a ordem de Zeus. Chamou Perséfone à sua presença. Olhou com paixão para a esposa. Diz a ela que deverá acompanhar Hermes até o mundo dos vivos, sendo devolvida à mãe. Triste, beija a face da amada. Em um último ardil, oferece-lhe uma saborosa romã como lembrança do seu amor. Perséfone come a fruta, sem saber da regra que estabelecia: quem comesse qualquer fruto no Tártaro a ele teria que retornar. Perséfone despediu-se do marido, regressando ao mundo dos vivos.
Deméter recebeu a filha com alegria. Os campos voltaram a florir. Ao abraçar a filha, a deusa lembrou-se de perguntar se ela havia comido alguma fruta no Tártaro, ao que a jovem respondeu afirmativamente, comera o bago de uma romã. A deusa desolou-se, sabia que a filha teria que voltar ao Tártaro todos os anos. Diante do ardil, ficou estabelecido por Zeus que Perséfone passaria uma parte do ano ao lado do marido, reinando no Érebo, outra parte ao lado da mãe, na terra e no Olimpo. Assim, durante o tempo que Perséfone despede-se da mãe e retoma o caminho do Érebo, a deusa recolhe-se à tristeza da sua saudade. Em conseqüência dessa tristeza, as árvores perdem as folhas e as flores, os campos ficam sem as plantas, o inverno invade a terra com o seu vento frio e cortante, deixando-a desolada e coberta pelo gelo. Quando Perséfone retorna aos braços da mãe, alegrando-lhe o coração, as folhas voltam verdes às arvores, as flores invadem os campos, trazendo a primavera novamente ao mundo.
(Core e Perséfone romana).